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sábado, 29 de março de 2014

CADA UM COM SEU DESTINO (por Paulo Coelho)

Um samurai, conhecido por todos por sua nobreza e honestidade, veio visitar um monge Zen em busca de conselhos. Entretanto, assim que entrou no templo onde o mestre rezava, sentiu-se inferior e concluiu que, apesar de toda a sua vida lutando por justiça e paz, não tinha sequer chegado perto ao estado de graça do homem que tinha à sua frente.

- Por que estou me sentindo tão inferior? – perguntou, assim que o monge acabou de rezar. – Já enfrentei a morte muitas vezes, defendi os mais fracos, sei que não tenho nada do que me envergonhar. Entretanto, ao vê-lo meditando, senti que minha vida não tinha a menor importância.

- Espere. Assim que eu tiver atendido todos que me procurarem hoje, eu lhe darei a resposta.

Durante o dia inteiro o samurai ficou sentado no jardim do templo, olhando as pessoas entrarem e saírem em busca de conselhos. Viu como o monge atendia a todos com a mesma paciência e o mesmo sorriso luminoso em seu rosto. Mas o seu estado de ânimo ficava cada vez pior, pois tinha nascido para agir, não para esperar.

De noite, quando todos já haviam partido, ele insistiu:
- Agora o senhor pode me ensinar?

O mestre pediu que entrasse, e conduziu-o até o seu quarto. A Lua cheia brilhava no céu, e todo o ambiente inspirava uma profunda tranqüilidade.

- Está vendo esta Lua, como é linda? Ela vai cruzar todo o firmamento, e amanhã o Sol tornará de novo a brilhar. Só que a luz do Sol é muito mais forte e consegue mostrar os detalhes da paisagem que temos à nossa frente: árvores, montanhas, nuvens. Tenho contemplado os dois durante anos, e nunca escutei a Lua dizendo: por que não tenho o mesmo brilho do Sol? Será que sou inferior a ele?

- Claro que não – respondeu o samurai. – Lua e Sol são coisas diferentes, e cada um tem sua própria beleza. Não podemos comparar os dois.

- Então você sabe a resposta. Somos duas pessoas diferentes, cada qual lutando à sua maneira por aquilo que acredita, e fazendo o possível para tornar este mundo melhor; o resto são apenas aparências.

sexta-feira, 28 de março de 2014

DEUS É A SOMBRA DO HOMEM (por Paulo Coelho)



Já participei junto com o prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel, de várias conferências em Davos, na Suíça. Em algum de seus discursos, ele comentou:

"Deus é a sombra do homem. Assim como a sombra repete os movimentos do corpo, Deus repete os movimentos da alma".

 Acho excelente esta descrição de Wiesel. Sempre existe uma relação entre o que fazemos e o que recebemos em troca; quando somos generosos, a "sombra de Deus" repete os movimentos que fizemos em benefício do nosso próximo, e nos dá com generosidade dez vezes maior. Se somos cruéis, esta nossa crueldade se reflete no plano espiritual, e também retorna.